Mini Guia de Aysén: um oásis de vida natural na Patagônia Chilena

o que fazer em aysen

No vasto céu de Aysén, majestosos condores andinos se elevam, com suas asas abertas em um balé aéreo, sobrevoando as imponentes montanhas. Aos pés da icônica Carretera Austral, os huemules, símbolos nacionais do Chile, pastam tranquilamente, indiferentes à presença dos turistas que, eufóricos, saem de suas vans para admirá-los de perto. Essa coincidência, no primeiro dia da minha viagem, de me deparar com dois dos mais emblemáticos animais chilenos – ambos presentes no brasão de armas do país – foi um indício auspicioso. Encontrá-los em seu habitat natural solidifica a promessa de que explorar a região de Aysén é mais do que uma viagem: é uma verdadeira imersão na essência mais pura e selvagem da Patagônia chilena.

Como chegar em Aysén

Chegar a Aysén, um dos tesouros escondidos da Carretera Austral, na Patagônia chilena, é uma jornada acessível e cheia de beleza. A Latam Airlines opera dois voos diários para Balmaceda, o aeroporto mais próximo à região de Puerto Chacabuco, onde se situa o Hotel Loberías del Sur, que foi a minha base. Para quem parte de Puerto Montt, a aventura é via Carretera Austral, em uma viagem de 640 km e que pode durar até 14 horas – e que já é uma baita experiência por si só. 

Saindo do Brasil há uma conexão em Santiago do Chile, em um voo que dura em média 3h30 (saindo de São Paulo). De Santiago, mais 2h10 até Balmaceda. Ao chegar, são mais 132 km em uma van até Puerto Chacabuco.

Contudo, vale ressaltar uma experiência pessoal: um atraso na entrega das malas pela Latam Airlines resultou na perda do meu voo de conexão para Balmaceda. Como era o último voo do dia, tive que ser realocado para o primeiro voo do dia seguinte. A companhia aérea não se responsabilizou pela hospedagem em Santiago, portanto, é prudente planejar conexões com tempo suficiente para evitar contratempos.

O que fazer na região de Aysén: mapa das principais atrações

Explorar a região de Aysén é mergulhar em um aventura por belezas naturais inesquecíveis. Durante minha estadia de cinco dias, tive a oportunidade de vivenciar atividades que vão desde passeios em parques nacionais e glaciares até caminhadas em densos bosques e momentos relaxantes em cabana na beira de um rio. Vale destacar que todas as excursões mencionadas foram cuidadosamente organizadas pelo Hotel Loberías del Sur, como parte do seu pacote all inclusive, que abrange não apenas a hospedagem e alimentação, mas também uma variedade de passeios. 


O que fazer em Aysén: Parque Aiken del Sur

A trilha, de fácil acesso, requer apenas equipamentos básicos: bota, calça e jaqueta, além de uma garrafa de água. Iniciar a viagem pela trilha do bosque foi uma decisão acertada, permitindo-me compreender melhor a vegetação local, incluindo Calafate, Michay, Chilcos e as dominantes Arrayanes, árvores lendárias conhecidas por absorver a energia negativa. A tradição local até incentiva abraçá-las! (Claro que as abracei). O percurso de 2 km é realizado em cerca de duas horas, incluindo as várias paradas para fotos e explicações do nosso guia, que era especialista na flora local. O ponto alto foi o Salto Barba de Viejo, uma impressionante cachoeira de 22 metros de altura, cujas águas geladas, originárias do degelo, refrescavam nossos rostos. Localizada em meio às árvores mais antigas do parque, a cachoeira tem um fluxo surpreendente de 860 litros de água por segundo, com uma temperatura média de quatro graus Celsius.

O que fazer em Aysén: Parque Nacional Queulat

A visita ao Parque Nacional Queulat foi um dos pontos altos do meu segundo dia de viagem. Uma dica crucial para esta região é verificar com um dia de antecedência a previsão do tempo: se houver previsão de chuva para o dia deste passeio, é melhor reagendá-lo para um dia ensolarado. A atração principal do parque é o Ventisquero Colgante, uma das geleiras mais espetaculares da região, cuja beleza se realça plenamente sob o sol. Sem isso, a jornada de várias horas até lá pode não valer tanto a pena. 

A viagem de Puerto Chacabuco ao Parque Nacional Queulat durou cerca de 4 horas de van. Durante o trajeto, fizemos pausas para uso de banheiro e para observar um mirante. Antes de entrar no parque, paramos em uma cabana que servia como ponto de apoio para as excursões, onde nos foi oferecido um café para esquentar o corpo, uma recompensa antecipada pelo frio que nos aguardava. 

O parque dispõe de três trilhas, mas devido ao temporal do dia, o grupo optou pela mais curta. Apesar da chuva e da invisibilidade da geleira, a experiência foi interessante. Na Patagônia, qualquer passeio, mesmo dentro do carro, é interessante. A caminhada pelo bosque e a travessia de uma ponte suspensa foram encantadoras. As espécies endêmicas e imponentes das árvores criavam um ambiente que parecia saído de um filme de Jurassic Park. Embora tenhamos chegado ao mirante da geleira e esperado alguns minutos na esperança de uma melhora no tempo, o clima não colaborou. Assim, voltamos para a base, onde um almoço nos aguardava.

Assim é a vista em um dia de sol:

Uma informação interessante é que nos tours de dia inteiro, o Hotel Loberías del Sur envia uma equipe de cozinha para preparar o almoço no local da excursão. Na cabana, além de um almoço, tínhamos disponíveis água, refrigerante, vinho, espumante e o tradicional pisco sour. 

Dica: leve em sua mochila de apoio uma troca completa de roupas, especialmente se houver possibilidade de chover. Considere as quatro horas de retorno ao hotel.

O que fazer em Aysén: Cerro Castilho e Capillas de Mármol

Acordei animado para o terceiro dia de viagem. Além de visitar as Capillas de Mármol (Capelas de Mármore), iríamos dormir em um abrigo, por conta da distância, e retornaríamos no dia seguinte.

A jornada começou bem cedo, já que 293 km separam Puerto Cachabuco de Puerto Rio Tranquilo, de onde saem os botes para visitas as capelas. No caminho, passamos pelo Cerro Castilho, conhecido por sua beleza majestosa, e tivemos a sorte de avistar huemules, uma espécie ameaçada de extinção nativa das Cordilheiras dos Andes do Chile e Argentina, simbolizados no brasão chileno.

Após três horas na estrada, paramos para observar um grupo de huemules pastando pacificamente, uma experiência única de observação da vida selvagem. Nosso guia explicou que os chifres da espécie caem anualmente, em um ciclo natural. Mais adiante, chegamos ao Lago General Carrera, o segundo maior lago da América do Sul, de onde partimos para conhecer as Capillas de Mármol. Embarcamos em um barco, e apesar dos ventos fortes e das ondas que batiam, a navegação de vinte minutos nos levou a uma enseada tranquila onde a verdadeira beleza das Capillas de Mármol se revelou. As cavernas, esculpidas na pedra de mármore pelo movimento da água, que se tingia de um azul turquesa, merecem a fama que possuem.

Navegamos entre as ilhas, acompanhados por um guia local que nos ofereceu explicações detalhadas. Após a visita, maravilhados, seguimos para um almoço com excelentes vinhos chilenos, antes de prosseguir para Puerto Bertrand, a 1h30 de distância, onde passaríamos a noite. A acomodação era no recém-inaugurado Parador Bertrand, do mesmo grupo do Loberías del Sur, um local encantador e acolhedor, perfeito para relaxar após um dia de aventuras. O jantar no parador, acompanhado de vinhos e boas conversas, foi um momento de celebração e partilha entre os membros do nosso grupo.  

O que fazer em Aysén: Glaciar San Rafael

O ápice da viagem foi, sem dúvida, a visita ao Glaciar San Rafael no último dia. O glaciar, situado no parque nacional homônimo, é a atração mais impactante da região, um baita cartão postal. Uma excursão ao Glaciar San Rafael requer um dia inteiro, com 4 horas de viagem tanto para ir quanto para voltar, mas a bordo do novíssimo Catamarã Aysén (a viagem ocorreu em janeiro de 2021), a experiência é outro nível. 

Participamos da primeira viagem da temporada do Catamarã Aysén ao parque nacional, que é capaz de transportar até 237 passageiros e é considerado o mais rápido do sul do Chile, atingindo uma velocidade média de 45 km/h. O passeio, que dura das 7h às 18h, inclui café da manhã, almoço, lanches e uma variedade de bebidas – refrigerante, água, sucos, café, chás, vinho, pisco sour e uísque com gelo glaciar – um clássico das viagens pela Patagônia. 

Aqueles que apreciam observar animais em seu habitat natural terão a chance de encontrar uma riqueza de vida selvagem, incluindo famílias de lobos-marinhos, golfinhos, cormorões e focas-leopardos. Durante a viagem, avistei um lobo-marinho, um golfinho e um grupo de cormorões, além de outras aves que infelizmente não consegui identificá-las. 

Antes de chegar ao Parque Nacional San Rafael, o nosso guia Pablo nos deu uma aula sobre glaciares, abordando seus diferentes tipos, formações, zonas de acumulação e equilíbrio. Essas informações enriqueceram nossa compreensão e apreciação do que estava por vir.

Ao chegar ao Glaciar San Rafael, fomos tomados por sua magnitude. Navegar de bote próximo à imensa massa de gelo é uma experiência emocionante, e o som dos blocos de gelo se desprendendo, semelhante a trovões, intensificou a sensação de estarmos imersos ao que nossos olhos estavam observando. A paisagem ao redor dos fiordes revelou a beleza autêntica da Patagônia. Visitar este espetáculo natural, esculpido ao longo de milênios, é uma experiência verdadeiramente inesquecível e imperdível na região de Aysén.

Onde ficar em Aysén: Hotel Loberias del Sur

O hotel Loberias del Sur foi a nossa base para esses dias em Aysén. Localizado na pequena Puerto Chacabuco, o hotel é o mais bem estruturado da região e tem o diferencial de ter suas diárias all inclusive de alimentação e excursões. Neste link eu conto sobre a minha experiência no hotel. Para saber mais, clique aqui para ver o hotel no Booking ou aqui para ir para o site deles.

O que levar/vestir para a Patagônia

Ao planejar uma viagem para a Patagônia, é essencial considerar as condições climáticas, mesmo durante o verão, pois o frio é uma constante no extremo sul do nosso planeta. Para garantir conforto e proteção, aqui vai uma lista do essencial para incluir na sua mala: botas e jaqueta impermeáveis, gorro, luvas, meias grossas, hidratante labial, protetor solar, óculos escuros, um casaco robusto (idealmente corta-vento), roupas de segunda pele (camisa e calça térmicas) e uma mochila para uso diário.

Qual moeda levar?

Quanto à moeda, no Chile, é comum que estabelecimentos aceitem dólares americanos e devolvam o troco em pesos chilenos. Se preferir ter pesos chilenos em mãos ao chegar, é aconselhável levar dólares e trocá-los em casas de câmbio no centro de Coyhaique e Puerto Aysén.

Dicas adicionais:

Considerando a longa duração das viagens de van, que podem variar de 8 a 10 horas por dia entre Puerto Chacabuco e as atrações turísticas, é prudente levar algum medicamento para enjôo. Além disso, as tomadas na região são de dois pinos, então um adaptador universal é primordial.

Fotos: Átila Ximenes e Jaime Borquez.

*Átila Ximenes, editor do Vou Contigo, viajou para Aysén a convite do Hotel Loberías del Sur.

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