Aeroportos, Encontros e Despedidas

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O aeroporto e as despedidas

Ontem fui deixar a minha mãe no aeroporto depois de 7 dias intensos em Buenos Aires juntas. Ao deixá-la no portão para o controle de passaportes, outras famílias, amigos e casais se despediam, mas um deles me chamou mais a atenção: um pai, com mais ou menos 57 anos se despedia de sua filha e lhe abraçava forte e logo depois de que ela entrasse, se apoiou na porta e gritou: “filha, por favor, tem como chegar e me ligar no Skype? Filha, me dê notícias”; um garoto na faixa dos 19 anos, possivelmente o seu irmão, olhou para mim assistindo a cena e disse: “ela vai para a Itália, por 7 meses” e a minha resposta foi: “ela vai ficar bem” e quando me girei, lá estava o pai, olhando-a ir e a mãe, que tentava puxar o marido e convencê-lo da partida.

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Beaver Creek- USA, onde vivi o meu 1º intercâmbio.

Esse momento não durou mais de 4 minutos e quando me dei conta, era eu quem estava em prantos. Aquela cena trouxe a tona um flashback rapidíssimo dos meus encontros e despedidas desde que eu decidi sair do país pela primeira vez e morar fora, em 2006. Há muitas pessoas que por motivos óbvios evitam lugares nos quais vivenciaram algum tipo de dor ou momento difícil e desde a minha primeira viagem, o aeroporto passou a ter esse significado para mim. Mas peraí… você ama viajar e está me dizendo que aeroportos te geram algum tipo de sentimento incômodo? A resposta é sim.

chivasso
Esperando o trem sozinha em Chivasso, Itália, para começar minha aventura de Au Pair no Vale de Aosta.

Minha história com aeroportos e viagens

Aos 5 anos me mudei de cidade pela 1ª vez e desde 1990 a minha vida foi marcada por viagens e mudanças, primeiramente pela carreira do meu pai e depois por opção própria; Buenos Aires é a 9ª cidade na qual eu vivo aos meus 27 anos. Quando eu era nova, viajar era algo cultural e normal na minha família e depois da minha primeira viagem de intercâmbio aos EUA, virou necessidade, estilo de vida.

Viajar é viver momentos e situações corriqueiras que poderiam transcorrer em anos em apenas dias ou meses. Nos expomos a novas culturas, novas pessoas com as quais compartilhamos momentos inesquecíveis, a novos cheiros, cores, sentimentos e sonhos e a cada partida ou chegada, levamos algo novo e deixamos algo de nós e dependendo da intensidade da experiência, nunca mais seremos os mesmos. Viajar nos dá a possibilidade de quebrar tabus, modificar opiniões, descobrir coisas em nós mesmos que estava ali, escondido, oculto, apenas esperando um novo estímulo que mudasse tudo em questão de minutos; são como doses intensas de vida, onde saímos da rotina e nos abrimos para o novo, o inesperado.

Aeroporto de Marselha com a minha melhor amiga e roomie em Madrid, Andrea.
Aeroporto de Marselha com a minha melhor amiga e roomie em Madrid, Andrea.

O aeroporto para mim é o simbolismo de tudo o que eu fui e deixei para trás. A cada partida e a cada chegada, eu deixo de ser um pouco o que era e vou me transformando no ser humano que sou e, todo processo de transformação, por mais que imperceptível, carrega consigo um pouco de alegria e de dor.

Como disse Mario Quintana, “Viajar é mudar a roupa da alma” e  para mim, nada é mais bonito e vivo do que isso.

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  1. Gostei muito do post…Adoro viajar, mas tenho a maior “canseira” dos aeroportos. A gente nunca sabe o que está por vir!!! Meu pior momento é a chegada no destino, principalmente nos USA, onde a entrada no país é sempre tensa.
    Ana Silvia

  2. Pingback: Minha Casa Na America - O seu sonho de investir na america
  3. Adorei seu post, quando estava indo ao seu encontro levava comigo a expectativa do nosso reencontro alegria de te ver, e foram realmente 7 dias intensos, ao deixa-la do outro lado do portão em nossa despedida, meu coração apertou se fechando por te deixar o que me consola é saber que você está bem e está em busca do seu ideal.

  4. É um símbolo muito forte mesmo. Nos últimos 2 anos, passei por uns 40 aeroportos. Na maioria das vezes estava sozinho, deixando para trás amizades, alegrias e despedidas.

    Acabei aprendendo e me acostumando com esse sentimento. Claro que sempre rola uma tristeza, mas hoje consigo lidar melhor com a situação.

    Beijos Lud…espero que em breve a despedida seja a nossa, depois de minha visita aí p vcs!!! 🙂

  5. Gui,

    Concordo com você em tudo e espero aprender a lidar melhor com o aeroporto. Estamos esperando a sua visita e a sua chegada (já que a despedida…hehe). um beijo!

  6. Adorei o post, Lud! Já tinha dito isso: acho cheio de simbolismo e significado!
    Aeroportos, pra mim, são um misto: tem a questão de despedidas e deixar para trás, sim – mas também, sempre achei uma certa mágica nos portões de embarque internacional: como se atrás dele se escondesse um mundo cheio de possibilidades e aventuras. E, na prática, não é isso que acontece?

    E aí, você vai percebendo que o aeroporto é um HUB, e você aprende do mundo muita coisa, sem nem entrar no avião. Aprendi que o aeroporto de Londres tem gente do mundo todo, que circula por ali numa espécie de “estar sem estar”, porque é um estar temporário – o povo ainda não chegou ao seu destino, mas a cabeça já saiu de Londres, então é uma espécie de limbo, mais criado pelas pessoas que pelo lugar! E aprende também, por exemplo, que o aeroporto de Ji-Paraná, em Rondônia, não tem esteira de bagagem, mal tem sala de espera e que a distância do avião para as pessoas é assim, curtinha. E curtinho também é o seu HUB, porque você já saiu do avião chegando na cidade, sem aquela experiência de aeroporto… Ou, quase. Enfim!
    Posso dar uma dica para sua vida atribulada? Quando puder, tenta encontrar um livro chamado “Uma semana no Aeroporto”, escrito por Alain de Botton, um filósofo francês que passou uma semana em Heatrow, só documentando seus pensamentos sobre aeroportos e pessoas. Vale a pena!!
    Adorei, viu??
    Beijos,
    Cla

  7. Há mais de três anos, eu atravessava o portéao de vidro escuro do aeroporto de Confins, em BH, pra vir embora pra França. Chorei litros, e minha mãe, idem. Meu marido não derramou uma lagrima, enxugou as poucas que minha sogra derramou, abraçou o pai, me deu a mão e atravessou a porta comigo. De lá pra cá, vivenciamos muitos encontros e despedidas no aeroporto, e eu contenho cada vez mais as lágrimas, não por frieza, mas pelo que ele me disse ao me explicar porque não chorou: foi uma escolha nossa, e a gente tem que mostrar pros pais que estamos seguros dela, e deixar eles se exprimirem. Assim, cada vez que deixo alguém no aeroporto, é com sorrisos que me despeço. As lágrimas só entram em cena quando eles não estão mais no campo de visão. É dificil, mas foi uma forma que encontramos de lidar com esse momento delicado da despedida.

  8. Natalia,

    É a maneira que eu lido com tudo. Aguento as lágrimas até que eles saiam do meu campo de visão. O tempo passa e o sentimento fica menos intenso, mas ele sempre está aqui, dentro, apertado.

    E que bom que aguentamos, né? Essa nossa escolha rendeu e renderá em muitas viagens e historias.

    Um abraço e obrigada pelos comentário!

  9. Obrigada, Clá! Amei toda a sua visão meio “Harry Poter”, você é demais! E obrigada pela dica do livro, tá anotada. Espero estar com você em algum HUB esse ano 😉

    beijo!

  10. EU ADOREI!
    ojala la vida me hubiese dejado viajar tanto o me permitiera tener a mis padres “emocionados” GRACIAS VOU CONTIIGO por brindarme una anecdota que sin ser vivida, me emociono hasta erizar los pelos!!!
    Aeropuertos, despedidas, bienvenidad y NUEVOS ENCUENTROS!

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